quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Por trás da Carta


Como Martim Luther King se tornou um negro furioso

Por: John Blake, CNN
16-abr-2013



No momento em que Clarence Jones chegou, o Rev. Martin Luther King Jr. estava em péssimo estado.
Ele estava barbudo, sujo e abatido. Luther King passara vários dias sozinho, em confinamento solitário, sem colchão, em uma cela escura e imunda em Birmingham, Alabama.
"Leve isso para fora", King sussurrou enquanto pegava o cinto de Jones e colocava jornais e pedaços de papel higiênico nos bolsos de suas calças.
Jones, advogado de King, ponderou se Luther King não estaria desabando. Ele não prestou atenção ao que King lhe dera - era apenas uma miscelânea de palavras e setas rabiscadas em pedaços de papel.
"Não, até cinco dias depois quando li uma cópia mimeografada da carta", diz Jones. "Para ser honesto com você, eu estava mais preocupado com o dinheiro da fiança e não com o que ele havia escrito."
Milhões de pessoas já leram o que Jones ignorou no primeiro momento. Hoje, quando a nação comemora o 50º aniversário da   "Carta da prisão de Birmingham" de Luther King (em 16 abr 2013), o documento se tornou uma epístola americana. É considerado uma defesa clássica da desobediência civil.
Mas aqueles que veem a carta de King como apenas um tratado sobre a resistência não-violenta, cometem o mesmo erro que o advogado de King fez: eles não percebem o que é diferencial sobre algo que está bem diante de seus olhos, dizem alguns estudiosos.
A carta é um dos retratos mais íntimos de um Luther King que a maioria das pessoas desconhece: um negro raivoso que havia odiado pessoas brancas e, segundo um estudioso, era mais perigoso do que Malcolm X, a quem King admirava.
"Antes de tudo, a Carta, é o grito de dor, raiva e desafio de um negro", diz Jonathan Rieder, autor do recém-lançado “Gospel of Freedom” que olha para o "furioso proclamador da verdade" revelado na carta clássica de King.
A negritude de King - seu feroz orgulho racial, sua fé cristã negra e sua crença de que a maioria dos brancos eram "racistas inconscientes" – estão em plena exposição em sua carta, dizem os acadêmicos. A ira que marcou a carta de King se tornaria mais proeminente nos discursos que King fez antes, literalmente, de suas últimas horas, diz Rieder.
"Se houvesse um YouTube em 1968 e alguns dos sermões de King tivessem sido capturados, ele teria sido visto como Jeremiah Wright", diz Rieder, invocando o nome do ex-pastor flamejante do presidente Obama.
Rieder diz que a dupla natureza de King - o Luther King público de modos refinados e professorais, e o Luther King privado até sarcástico - se revezam no centro do ambiente da carta.
Em torno de amigos de confiança, King era um homem que fumava, matava as pessoas de rir com suas imitações de pregadores negros pomposos e uma vez terminou abruptamente uma reunião dizendo à sua equipe que ia a um show: "Sinto muito pessoal, James Brown já está no palco - Fui."
"King era um bruto", diz Rieder, um professor de sociologia no Barnard College, em Nova York que passou uma década ouvindo as gravações privadas e públicas de King. Rieder também escreveu “The Word of the Lord is Upon Me” um livro que revelou as discussões de bastidores de Luther King com amigos e colegas.
No entanto, o Luther King público – homem que nunca adotou o separatismo negro ou abandonou a não-violência – é igualmente autêntico, diz Rieder, e sua paixão moral inspirou o ativismo não-violento em todo o mundo.
"As palavras de King – a indignação daqueles que diziam aos oprimidos para 'esperar por uma época mais conveniente' – ressoou entre os combatentes da liberdade muito depois que a Carta foi escrita", escreve Rieder em "Gospel of Freedom".
Jones, o advogado que contrabandeou a Carta para Luther King, parou de se preocupar sobre a estabilidade emocional de King depois que se sentou para ler uma versão datilografada das anotações de King.
Jones dera as anotações de King a uma secretária, de 17 anos de idade, da Conferência Sulista de Liderança Cristã (Southern Christian Leadership Conference), organização liderada por King. A secretária decifrou os rabiscos de King e produziu a versão escrita. (Ela reclamou que King podia pregar bem, mas que suas anotações manuscritas eram muito difíceis de entender.)
"Quando eu li, eu disse: 'Oh meu Deus, é uma obra-prima!", diz Jones, autor do livro de 2011 “Behind the Dream: The Making of the Speech that Transformed America”.
"Ele não tinha um livro com ele; fez tudo isso de memória. Com todo o respeito a muitas coisas que ele escreveu, incluindo o discurso ‘Eu tenho um Sonho’, a Carta é uma das mais profundas (exemplos de) literaturas criadas no século XX", diz Jones, que ajudou a escrever o discurso do "Sonho" de King. Hoje, Jones é professor visitante  no Stanford University's Martin Luther King Jr. Research and Education Institute in California.
A carta de King, no entanto, não recebeu muita atenção quando foi publicada como um panfleto pelos Quakers em maio de 1963. Não produziu um momento de ruptura na campanha de Luther King contra a segregação em Birmingham - esse momento só chegou quando o reverendo James Bevel, um dos auxiliares imediatos de Luther King, sugeriu usar crianças como manifestantes – e foi inicialmente ignorado pela imprensa local e nacional.
Mas no verão de 1963, a Carta começou a ganhar força, aparecendo nas revistas Christian Century, Atlantic Monthly e Saturday Evening Post. Rieder diz que ganhou seu maior público como um capítulo em o popular livro de Luther King, "Why We Can't Wait" de 1964.
Um ministro foi tão inspirado pela leitura da carta de Luther King no Christian Century que escreveu: "Se o cânon da Sagrada Escritura não estivesse fechado, eu a nomearia ... como um acréscimo às epístolas na melhor tradição das cartas paulinas da prisão."
Os clérigos aos quais Luther King dirigiu a sua carta tiveram uma reação mista, escreveu Rieder em seu livro. Alguns achavam que isso piorava as tensões raciais, enquanto outro a chamava de "documento maligno" e reclamou que a partir de então passou o resto da vida passou a receber cartas perguntando se ainda era um radical.

Luther King no limite

A Carta foi escrita no momento em que Luther King achou que havia falhado.
Luther King e outros organizaram um protesto maciço em uma das cidades mais violentamente segregacionistas do sul. O Ku Klux Klan local era um dos mais violentos do país e havia se infiltrado no departamento de polícia. O KKK fora suspeito de tantos bombardeios na comunidade negra de Birmingham que a cidade fora apelidada de "Bombingham". (Quatro meninas negras, que frequentavam uma igreja negra em Birmingham, seriam mortas por uma bomba cinco meses depois da carta de King.)
Mas os protestos falharam porque os ativistas não puderam convocar participantes suficientes e estavam ficando sem recursos para a fiança daqueles que foram presos. Luther King decidiu que precisava fazer algo dramático. Ele provocou sua prisão liderando uma manifestação em 12 de abril de 1963, Sexta-Feira Santa.
A ousadia de Luther King pode ter sido forçada por eventos fora de Birmingham. Ele havia se tornado uma figura nacional oito anos antes depois de liderar com sucesso o boicote aos ônibus em Montgomery, Alabama, o qual levara Rosa Parks à fama. No entanto, ele não havia obtido grandes vitórias desde então e uma geração mais jovem de ativistas – que realizavam ocupações e marchas – eram influenciados pelas manchetes e questionavam a firmeza de King.
"Estavam assumindo o protagonismo que fora de Luther King", diz Clayborne Carson, editor do multi-volume  "The Papers of Martin Luther King, Jr."  uma das mais completas coleções de discursos e escritos de Luther King. A falecida viúva de King, Coretta Scott King, escolheu Carson para editar os escritos de King.
"Quase tudo o que acontecia naqueles dias não tinha relação com Luthter Kink", diz Carson, diretor do Instituto Luther King em Stanford. "King precisava desesperadamente de uma vitória ".
O desespero de King se aprofundou depois que ele foi colocado em confinamento solitário na cadeia de Birmingham. Ele odiava estar sozinho; dependia da companhia de pessoas para apoio emocional depois de tantas prisões. Também havia sido marcado por uma experiência anterior, quando fora levado a uma cadeia isolada na área rural da Geórgia, onde pensou que seria morto.
King também havia sido virtualmente isolado por sua própria comunidade. Apenas cerca de cinco igrejas negras em Birmingham permitiram que King usasse seus templos para reuniões de massa. O resto não queria nada com ele, diz Rieder.
"Muitos deles estavam sendo cautelosos em questões políticas", diz ele. "Eles faziam parte das classes profissionais e não queriam uma ruptura. Outros não gostaram da ideia de alguém importante chegando para lhes dizer o que fazer."
Deprimido, irritado e sozinho na cadeia, King leu uma matéria paga que havia sido publicada em um jornal de Birmingham por oito clérigos brancos moderados. O jornal foi contrabandeado para King enquanto ele estava na cadeia. Na matéria, os clérigos chamavam King de agitador externo e violador da lei, e aconselhavam-no a esperar.

A luta irada de Luther King

King não seguiu o conselho deles. Rabiscando nas margens do jornal ou em qualquer papel que ele pudesse encontrar, fez-se um profeta furioso. Ele descarregou no clero.
Escrevendo apenas a partir da memória, citou com destreza Sócrates, Santo Agostinho, o filósofo judeu Martin Buber e o teólogo Paul Tillich. Ele estava dando aula aos clérigos na própria área de conhecimento deles – a fé.
Em um ponto da carta, ele respondeu às críticas de que estava defendendo a quebra das leis segregacionistas em Birmingham. Como um ministro poderia dizer às pessoas para violarem a lei?
Luther King disse que havia uma diferença entre leis justas e injustas. Uma lei injusta é aquela que um grupo dominante não está disposto a seguir.
"Nunca devemos esquecer que tudo o que Adolf Hitler fez na Alemanha era 'legal'", escreveu King. "Era 'ilegal' ajudar e socorrer um judeu na Alemanha de Hitler."
As chamas emocionais na carta vêm quando King fala como negro, dizem alguns estudiosos.
Luther King havia detestado os brancos por causa de suas experiências de crescimento no sul segregado, diz Rieder. Embora King tenha crescido na classe média negra de Atlanta, ele experimentou todo tipo de humilhação racial e viu os negros serem tratados com crueldade.
"Ele passou por um período de ódio contra os brancos e levou algum tempo para superar isso", diz Rieder. "Ele diria que, quando via Malcom X na televisão, havia momentos em que sentia aquela velha amargura ressurgindo".
King escreveu sobre esse ódio quando estudante de pós-graduação no Seminário Teológico de Crozer, diz Rieder. Em um artigo intitulado, "Autobiography of Religious Development,"   King escreveu sobre como ficou chocado ao ouvir como seus pais tinham sido insultados pelos brancos. O próprio Luther King já fora ordenado a deixar seu assento num ônibus por uma pessoa branca e amaldiçoado como "negro".
"Enquanto meus pais discutiam algumas dessas tragédias ... eu estava determinado a odiar todas as pessoas brancas", escreveu King. "À medida que os anos passavam, esse sentimento continuava a crescer ... Eu não superei esse sentimento anti-branco até entrar na faculdade."
Essa amargura permeia a carta de King.
King escreveu que era fácil para os brancos dizer aos negros que eles estavam indo rápido demais. Mas quando você "viu multidões selvagens lincharem suas mães e pais à vontade ... quando seu primeiro nome se torna 'negro' e seu nome do meio se torna 'menino' (n.t. “neguinho”) ... você entenderá porque achamos difícil esperar".
King declarou na carta que o "grande obstáculo" para a liberdade dos negros não era o racista branco, "mas o branco moderado".
Rieder diz que King se identificou tanto com a ira negra que quando os distúrbios raciais se espalharam pelos Estados Unidos em meados da década de 1960, ele se recusou a demonizar os desordeiros negros. King disse uma vez que um motim "é a linguagem dos sem-voz".
"Foi o cristianismo dele que não permitiu que ele odiasse, mas ele não estava alheio a esses sentimentos", diz Rieder. "Ele não estava acima disso. Ele nunca desconsiderou esses sentimentos."
King ficou particularmente irritado com a igreja branca. Ele esperava apoio das igrejas brancas do Sul, mas disse na carta que a maioria "permaneceu em silêncio por trás da segurança anestesiante dos vitrais".
Ele até se pergunta em sua carta, enquanto relembra de avistar belas igrejas brancas do Sul durante suas viagens, se elas compartilham a mesma fé: "Que tipo de pessoas adoram aqui?" ele pergunta. "Quem é o deus deles?"
James Cone, o pai da teologia da libertação negra, diz que King ficou irado de tal maneira porque amava seu povo.
"O amor é paixão", diz Cone, um professor no Union Theological Seminary em Nova York. "Se você ama alguém e ele é machucado, você também sente. King se identificou com negros que experimentaram injustiça e humilhação. Você não pode olhar para isso e não ficar bravo. A raiva de King foi expressa exatamente na Carta."

Falando a linguagem do seu povo

King falou a linguagem dos teólogos brancos na carta, mas mostrou que era bilíngue - que ele também era fluente na língua da igreja negra, dizem alguns estudiosos.
Em seu livro, "Martin & Malcolm & America: A Dream or  Nightmare" Cone fala sobre o orgulho feroz que King tinha de sua herança negra.
King falou sobre se orgulhar de seu cabelo crespo. Uma vez disse a um grupo de ministros que Jesus "não era um homem branco" (ele disse que a cor de Jesus era irrelevante) e em sua famosa carta e em outro lugar King ligou o movimento dos direitos civis com os movimentos de libertação negra na África, diz Cone. (King participou da celebração da independência do Gana, em 1957, e da Nigéria, em 1960).
Na carta, King se orgulha de ser "filho, neto e bisneto" dos pregadores negros. Anos antes dos Afros, Dashikis e Black Power, King havia invocando o orgulho negro.
"Antes de os peregrinos desembarcarem em Plymouth, estávamos aqui", escreveu King na carta de Birmingham. "Antes que a caneta de Jefferson gravasse as palavras majestosas da Declaração de Independência ... nós estivemos aqui. Por mais de dois séculos nossos antepassados ​​trabalharam neste país sem salário; eles fizeram os barões do algodão; eles construíram as casas de seus senhores enquanto sofriam injustiça grosseira ... e ainda assim, com uma vitalidade sem fim, eles continuaram a prosperar."
King mantinha um padrão afirmativo da igreja negra. Ele frequentemente citava canções e frases que eram distintas na igreja negra. Ele encerrou seu discurso "Eu tenho um sonho" com as palavras de um negro espiritual. O último sermão que ele proferiu na noite anterior ao seu assassinato - seu discurso "Fui ao topo da montanha" – foi construído com base na história do Êxodo, uma narrativa bíblica apreciada pelos escravos.
"Quando suas costas estão contra a parede, você não pode ter uma fé emprestada", diz Cone. "Não é o seu intelecto que lhe dá coragem. O que lhe dá coragem é aquilo que surgiu de sua própria história, aquilo que o trouxe para o lugar onde você está."
Cone diz que a raiva de King era mais ameaçadora para os EUA do que a de Malcolm X.
"As pessoas brancas não gostavam de Malcolm, mas podiam tolerá-lo porque Malcolm não estava organizando negros de uma maneira que desafiasse a função do governo", diz Cone. "King estava."
Embora a carta de King fizesse pouca diferença na campanha de Birmingham, ela estabeleceu um dos seus maiores momentos públicos.
"Se a campanha de Birmingham tivesse fracassado, não teria havido um discurso do tipo "Eu tenho um sonho" porque ele não teria sido convidado para dar o discurso "Eu tenho um sonho", diz Carson, editor dos escritos de King.
King recebeu o cobiçado lugar de fechamento na Marcha de 1963 em Washington, onde ele estava livre para improvisar o discurso "Eu tenho um sonho" porque ele não tinha restrições de tempo, diz Carson.
Esse discurso ainda é mais celebrado que a carta de Birmingham.
Rieder, o autor do "Gospel of Freedom", diz que sabe por quê:
"‘Eu Tenho um Sonho’ é King como um sonhador com crianças negras e brancas de mãos dadas", diz Rieder. "Torna-se parte do mito de uma sociedade pós-racial: 'Não somos pessoas de bem?'"
A Carta, diz ele, compromete a tão aceita celebração americana de Luther King. Muitos americanos não estão prontos para encontrar-se com o King revelado em sua carta épica.
Aquele King não é um sonhador, diz Rieder, mas outra pessoa: o negro furioso que se pergunta que tipo de Deus algumas pessoas brancas seguem.

sábado, 22 de dezembro de 2018

A melhor coisa que você pode fazer hoje

Francis Chan


24 nov 2015

Imagine subir um monte sozinho. Mas não é um monte qualquer. O chão abaixo de você está tremendo e todo o monte está coberto de fumaça. No cume, há uma espessa nuvem com raios e trovões. Deus desce sobre o monte em fogo, e cada vez que você fala com Ele, Ele responde com trovões. Isso é o que Moisés experimentou em Êxodo 19.

Agora compare essa experiência com o seu último período de oração.

Disperso, obrigatório, repetitivo - eu duvido que qualquer dessas palavras viessem à mente de Moisés enquanto ele subia o monte. Porém, cerca de três mil anos mais tarde, nós raramente nos maravilhamos que Deus permita que humanos imperfeitos cheguem em sua presença.

Como o surpreendente se tornou tão ordinário para nós? Será mesmo possível que nossas experiências com Deus sejam de tal forma fascinantes?

Subindo o Monte

Um dos meus mentores vive na Índia. No ano passado, ele me ligou no telefone chorando, entristecido com o estado da igreja na América. "Parece que as pessoas nos Estados Unidos estão satisfeitas em tirar um selfie com Moisés. Será que eles não percebem que podem escalar a montanha por si mesmos? Por que eles não querem subir o monte?"

Quando foi a última vez que você teve um tempo significativo a sós com Deus? Um tempo tão bom que você não queria sair. Era só você, lendo a Palavra de Deus em sua santa presença.

Eu tinha quinze anos quando o meu pastor de jovens me ensinou a orar e ler a Bíblia sozinho. Agora, mais de trinta anos depois, eu ainda não consigo encontrar uma maneira melhor de começar os meus dias. Eu não posso imaginar como a minha vida seria se eu não buscasse orientação diariamente indo até o monte.

É a sós com Ele que eu me esvazio de orgulho, mentira e stress.

§  Orgulho: colocar-se diante de uma pessoa vestida em luz inacessível, tem o poder de humilhar você (1 Timóteo 6:16).

§  Mentira: falar com o Juiz onisciente, tende a induzir a honestidade (Hebreus 4:13).

§  Stress: ajoelhar-se diante do Deus que leva os homens a falhar ou a ter sucesso, substitui nossa ansiedade por paz (Salmo 127:1).
Ajuntadores Profissionais

Gastamos muito tempo e esforço reunindo os crentes. Nós nos tornamos especialistas em reunir os cristãos em torno de grandes bandas, preletores e eventos. Onde falhamos, é em ensinar os crentes a estar a sós com Deus. Quando foi a última vez que você ouviu alguém falando com entusiasmo sobre o seu tempo a sós com Jesus na sua Palavra? Reunir crentes que não gastam tempo a sós com Deus pode ser uma coisa perigosa.

Dietrich Bonhoeffer escreve em Vida em Comunhão:

Qualquer pessoa que não possa ficar sozinha deve ver o “estar em comunidade” com atenção. Essas pessoas só vão fazer mal a si mesmas e à comunidade. Sozinho, você estava diante de Deus quando ele o chamou. Sozinho, você teve que obedecer a sua voz. Sozinho, teve que tomar a sua cruz, lutar e orar; e sozinho você vai morrer e prestar contas a Deus. Você não pode evitar a si mesmo, pois foi desta forma que Deus te chamou. Se você não quer ficar sozinho, você está rejeitando o chamado de Cristo para você, e você não pode ter parte na comunidade.

A palavra comunidade é corriqueira em círculos cristãos de nossos dias, mas nossos encontros podem ser tóxicos, quando não se passa tempo a sós com Deus. Estive em muitos grupos onde as pessoas compartilham os seus insights. O problema não é apenas que as nossas percepções não são tão profundas quanto nós pensamos que são, mas que estamos tão ansiosos para compartilhar pensamentos originários de nossas próprias mentes, enquanto temos um Deus que diz:

Meus pensamentos não são os vossos pensamentos,
     nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor.
Porque assim como os céus são mais altos do que a terra,
     assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos
     e os meus pensamentos que os vossos pensamentos. (Isaías 55: 8-9)

Eu quero saber os pensamentos de Deus. Quero me reunir com pessoas têm lido a Palavra de Deus, pessoas que oram e interagem com ele. Eu quero comunhão com aqueles cultivam a comunhão com Deus. Importa-me pouco se você tem um doutorado em teologia ou sessenta anos de experiência de vida. Eu prefiro falar com um jovem de quinze anos de idade, que tem estado na presença de Deus.
Você Pode Amar Demasiadamente as Pregações?

Há muita discussão em torno de livros, sermões e conferências. Eu não sou contra isso. Afinal de contas, aplico boa parte da minha vida a pregar sermões, escrever livros e participar a conferências. Mas às vezes eu me pergunto se não é hora de mudar o nosso foco.

Temos que observar os fatos. Cristãos americanos consomem mais sermões e livros do que qualquer outro grupo na história do mundo, mas consideremos o estado da igreja. Será que o aumento de recursos nos levou a uma maior santidade? Maior intimidade com Jesus?

Você poderia argumentar que o estado de nossas igrejas seria ainda pior sem esses recursos. Talvez seja esse o caso. Ou poderia ser que estes recursos (e até mesmo este artigo) têm o potencial de desviar as pessoas da própria Fonte? Talvez todos esses livros e sermões sobre Jesus estejam realmente mantendo as pessoas distantes de uma interação direta com ele. Pode parecer blasfemo sugerir nossa vida de oração seja enfraquecida pelo consumo de material cristão; no entanto, é o que eu quero propor.

Vivemos em uma época em que a maioria das pessoas tem dificuldade em concentrar-se em qualquer coisa. Estamos constantemente procurando a solução rápida e respostas rápidas. Portanto, o pensamento de sentar-se calmamente para meditar sobre as Escrituras e orar profundamente em silêncio pode ser avidamente substituído por ouvir um sermão durante o transporte para o trabalho. Mesmo sendo definitivamente melhor do que nada (considerando todas as outras mensagens que nos bombardeiam diariamente), o ponto deste artigo é que não há nenhum substituto de estar a sós com Deus.

Temos de aprender a estar sós novamente.
Algo Tem que Acontecer

Era simples para Paulo. Ele adorava estar com Jesus. "Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro" (Filipenses 1:21).

O conhecimento de Cristo o consumia profundamente (Filipenses 3: 8). Não há nenhum substituto para estar a sós com Deus. Se você não tiver tempo, você precisa deixar alguma coisa para encontrar espaço na agenda. Pular uma refeição. Cancelar uma reunião. Por fim a algum compromisso regular. Literalmente, não há nada mais importante que você poderia fazer hoje.

É Deus quem determina se você vai ou não respirar uma vez mais: "porque Ele mesmo dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas" (Atos 17:25). Poderia haver algo mais importante do que se encontrar com Aquele que decide se você vai viver esse dia? Alguma coisa poderia ser melhor? Como não podemos ter um tempo para estar com o Criador do tempo?

Que planos tão importantes tem para hoje que você poderia deixar para trás o Criador?

=======================

Francis é pastor em São Francisco, Califórnia. Está trabalhando atualmente em um projeto chamado Ler a Escritura, uma ferramenta que ensina as pessoas como ler a Bíblia enquanto leem a Bíblia.

Fonte: DesiringGod.org
http://www.desiringgod.org/articles/the-greatest-thing-you-could-do-today